Medidas de prevenção e controle
A vigilância sobre a infecção humana, em função da pouca ou nenhuma expressão clínica que
apresenta na fase aguda inicial e do longo e silencioso curso da enfermidade, justifica-se apenas em
algumas situações específicas:
• em áreas consideradas indenes;
• na prevenção secundária, com tratamento quimioterápico específico na fase de patogênese
precoce dos casos de infecção recente, quando as drogas disponíveis são comprovadamente
eficazes;
• na transmissão congênita, o que é de certo modo uma situação particular de prevenção
secundária, uma vez que esses casos devem, obrigatoriamente, ser tratados;
• na prevenção de nível terciário, quando se pretenda identificar casos passíveis de atuação de
equipe multiprofissional, visando à limitação do dano.
O conhecimento do caso clínico é um evento raro no período patogênico inicial. Quando
conhecido um caso agudo, muitos outros terão ocorrido. Por outro lado, o caso crônico reflete, do
ponto de vista da transmissão, uma situação passada e remota.
Apesar da difícil suspeição clínica e independentemente da intenção de se fazer a busca do
infectado chagásico, com o propósito de proporcionar assistência ou instituir medidas de preven-
ção, há fontes de ingresso regular de casos. As fontes que mais frequentemente contribuem para o
conhecimento dos casos são:
• os bancos de sangue, na triagem de doadores, quase que exclusivamente crônicos;
• os inquéritos soro-epidemiológicos que, dependendo da população estudada, em especial
do grupo etário, pode levar à identificação de casos agudos e/ou crônicos;
• a suspeição clínica é outra possibilidade e, quase sempre, implica também no conhecimento
de casos crônicos.
Controle
Considerando a situação epidemiológica e os níveis de controle alcançados no país, distinguem-se duas situações específicas quanto às suas peculiaridades na definição dos fatores de risco:
• áreas com transmissão domiciliar ainda mantida ou com evidências de que possa estar
ocorrendo, mesmo que focalmente;
• áreas com transmissão domiciliar interrompida, distinguindo-se para essa situação:
› presença residual do vetor;
› sem detecção do vetor.
A colonização de vetores no domicílio é um fator de risco para a ocorrência da infecção. No
caso de espécie já domiciliada, as condições que favorecem a domiciliação ou a persistência da
infestação são:
• as condições físicas do domicílio (intra e peri) que propiciem abrigo;
• a qualidade e quantidade de fontes alimentares presentes;
• o micro-clima da casa favorável à colonização.
As características do extra domicílio que influenciam o processo de invasão e colonização
domiciliar são basicamente:
• a restrição de habitats e de fontes alimentares;
• o clima e as mudanças climáticas;
• a interferência do homem no meio silvestre.
A transmissão da DC na Amazônia apresenta peculiaridades que obrigam a adoção de um
modelo de vigilância distinto daquele proposto para a área originalmente de risco da DC, no país.
Não há vetores que colonizem o domicílio e, por consequência, não existe a transmissão domiciliar
da infecção ao homem. Os mecanismos de transmissão conhecidos compreendem:
• transmissão oral;
• transmissão vetorial extra domiciliar;
• transmissão vetorial domiciliar ou peridomiciliar sem colonização do vetor.
Por outro lado, há que considerar que a DC não era reconhecida como problema de saúde
pública na região. Em função dessas condições e circunstâncias, as atividades de vigilância implantadas na Amazônia Legal são:
• a detecção de casos apoiada na vigilância de malária, estruturada e exercida de forma extensiva e regular na região, por meio de busca de indivíduos febris. Outras fontes de conhecimento de casos podem ser os bancos de sangue, a suspeição clínica e a notificação de casos
pela rede de serviços de assistência médica;
• a identificação de espécies de vetores;
• a investigação de situações em que há suspeita de domiciliação, devido ao encontro de formas imaturas.
Orientações para coleta e encaminhamento de insetos
No caso de encontrar triatomíneos (barbeiro) no domicílio, devem-se seguir as seguintes
orientações:
• não se deve pegá-los com a mão “desprotegida”, esmagar, apertar, bater ou danificar o inseto;
• para manusear os triatomíneos, deve-se proteger a mão com luva ou saco plástico;
• no caso da utilização de saco plástico, deve-se de ter o cuidado de não tocar diretamente o
inseto;
• os insetos deverão ser acondicionados em recipientes plásticos, com tampa de rosca para
evitar a fuga;
• amostras coletadas em diferentes ambientes (quarto, sala, cozinha, anexo ou silvestre) deverão ser acondicionadas, separadamente, em frascos rotulados, com as seguintes informações: data e nome do responsável pela coleta, local de captura e endereço.
Componente educativo
As ações de prevenção e controle implicam a adoção de medidas efetivas que envolvam a participação popular, aumente o conhecimento das pessoas e a demanda pela prevenção e controle da
doença, nas áreas do município onde existem riscos de infestação pelos triatomíneos.
Com a eliminação da transmissão da doença pela principal espécie domiciliada (T. infestans),
a infestação peri-domiciliar ganhou importância e se tornou um desafio no controle de triatomí-
neos. O componente educativo do programa busca a participação comunitária no exercício de
medidas preventivas e notificação dos insetos suspeitos de serem triatomíneo.
É importante o envolvimento das secretarias municipais de educação e supervisores pedagó-
gicos, para o estabelecimento das estratégias de envolvimento, na rede de ensino fundamental, do
tema doença de Chagas nas atividades curriculares e extracurriculares, para escolares residentes
em área rural, visando o repasse da orientação aos pais com vistas ao encaminhamento de insetos
à unidade básica de saúde (UBS) ou ao Posto de Identificação de Triatomíneos (PIT) mais próximo.
Os agentes do Programa de Agentes Comunitários de Saúde e do Programa de Saúde da
Família (PACS e PSF) têm papel fundamental na orientação à população e no envolvimento das
Unidades Básicas de Saúde no fluxo de encaminhamento de notificações de insetos suspeitos. Para
tanto, é indispensável capacitá-los sobre doença de Chagas, abordando noções gerais sobre a doença e vetor; atividades do Programa de Controle da Doença de Chagas no estado, na região e no
município. Devem ser apresentados mostruários com o ciclo de vida dos triatomíneos e um exemplar de cada espécie predominante no município, além de materiais educativos a serem utilizados
durante as visitas pelo ACS, que orientem o morador quanto aos cuidados a serem tomados para
evitar o contato com triatomíneos vetores. Deve ser estabelecido o fluxo para encaminhamento de
insetos suspeitos e as formas de preenchimento de fichas de notificação de insetos.
As equipes responsáveis pelo programa de atenção básica no município devem realizar treinamentos, capacitações e atualizações dos profissionais da Saúde e da Educação para implementação
das ações de vigilância e controle.
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Doença de Chagas